sábado, 9 de novembro de 2013

Carta de amor

Hoje escrevo-te a última carta de amor possível.

Digo-te que os anos não passam como pensas, as palavras não se gastam como dizes, as pessoas não são aquilo que parecem.

Digo-te que só me resta uma carta recebida, uma palavra a devolver, um carimbo que o correio se esqueceu.

Fico por aqui. Onde sempre e nunca estou.
No lugar que me pertence.
O único lugar para uma última carta de amor possível.

Paula Raposo - Novembro de 2013.

domingo, 15 de setembro de 2013

Sem título

A ternura com que lês as entrelinhas das minhas reflexões
deixa-me um sorriso de afecto e de esperança,
donde solto a saudade da distância.

São os espaços em branco que dão colorido à minha vida,
é o mar, são as flores,
é a voz, são os momentos.

Na luz das minhas palavras reflecte-se o teu olhar.

Paula Raposo - Setembro de 2013.

terça-feira, 2 de julho de 2013

OMBREIRAS


Encosto-me à ombreira da porta

como que esperando - ou não - o voo dos pássaros

que sempre acontece deste lado do oceano.



Em silêncio, sem me mexer, respirando baixinho

é junto à ombreira da porta que eu espero

- ou não - as marés que sempre acontecem

deste lado da vida.



Por aqui passam esperados voos e marés

e sempre nos detemos esperando

o que de esperado nada tem

pois é tudo tão inesperado

quando nos encostamos às ombreiras das portas.   Paula Raposo - Junho de 2013.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Sem título

Cerram-se fileiras
na contramaré;
não falo de destino
nem de adjectivos,
muito menos de verbos
conjugações
advérbios ou conjunções.

É na contramaré
que adivinho o futuro
sem alternativa:
uma espécie em vias de extinção.

Paula Raposo - Março de 2013.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Envelhecer

Começar a envelhecer
é um processo que começa
quando nascemos, claro.

Eu sei.

Começar a sentir
o envelhecimento
é outra coisa,
processualmente
diferente;
vamos andando por aí - aqui -
e só nos apercebemos
do passar do tempo
200 anos depois de termos nascido.

Isso é muito bom.

Faltam-me - ainda -
cento e quarenta e um anos
para que eu compreenda(!)
que começo a envelhecer.

Maravilha de Vida!

Paula Raposo num dia estrondoso.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

MARÉS

São os caminhos
indefinidos
sem rota elaborada
que me prendem
à vida em ti;
são as palavras
que nas marés
sucumbem,
em rituais
imaginários
de sempre saber
porque te encontro.

Paula Raposo - Fevereiro de 2013.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

OLHAR DE LUZ

É no teu olhar manso
que encontro a força
que me negam os dias,
a esperança absorvida
- algures - entre as paredes
cruas de uma casa estéril.

É no teu olhar sublime
que revejo a luz
onde me quero cobrir
e descobrir as manhãs
que nos sobram de amor.

Paula Raposo - Janeiro de 2013.